21 de maio de 2016

O Farol do Bugio

Ao longe, a imensidão do Bugio parece iludir-nos. E ilude. Não é só mais um farol. A sua história está bem presente na sua estrutura. Foi arma de defesa, foi prisão, foi lugar de fé, e a força da maré e do tempo não lhe tiram esses traços. Hoje em dia, além das suas funções de farol, cede abrigo a um bando de gaivotas fiéis que com certeza se deixou deslumbrar pela vista.

O Farol do Bugio, outrora Forte de São Lourenço do Bugio, assumia-se desde o início da sua construção como uma estratégia de organizar uma praça de armas que pudesse cruzar fogo com o Forte de São Julião da Barra, protegendo assim os canais de acesso a Lisboa.

As datas para o início da sua construção variam, mas nunca se distanciam muito de 1578. Em 1590, Filipe II de Espanha retoma a obra e requisita os serviços do frade servita, João Vincenzo Cazale. A sua forma arredondada, atípica na altura, é aliás um capricho do artista napolitano que argumentava que a assim o forte melhor se salvaguardaria da agressividade das intempéries.

Diz-se que o Bugio foi edificado em cima de um banco de areia e que herdou o nome das “ bate-estacas” que suportam a sua construção. Há também a teoria de que a denominação se deva, apenas, à sua localização relativa empregue também a outros locais em outras barras. A olho nu, as dimensões do Bugio são imensuráveis. A sua base circular detém 62 metros de diâmetro por 6 de altura e o forte, também circular tem 33 metros por 7. Tem dois pisos separados por uma moldura. Neles se revezam as oito divisões, as mesmas que em 1820 albergaram 50 soldados, tenentes e sargentos, destacados para defender a barra da Lisboa.

A capela singela, no primeiro piso, foi já ponto de romaria religiosa, recebendo a missa de Domingo e até sendo ponto de pagamento de promessas. Ainda se vislumbram alguns embrechados de mármore entre os tetos e as paredes forrados a madeira. A beleza característica das capelas setecentistas está lá, ornamentada, porém, pelo desgaste do tempo.

O interesse militar do Bugio foi-se reduzindo, e em 1945 o forte foi desarmado, ficando apenas com a função de sinalização marítima. Em 1957 foi considerado imóvel de interesse público. Foi sofrendo ao longo dos anos várias recuperações. Os estragos são visíveis. A intensidade da corrente deixa rastos. Já foi alvo de várias obras de restauro, a última data de 2000. A parte mais protegida das ondas e das tempestades é a única que ainda mantém a pedra original mandada colocar por D. João IV. A torre, essa, parece imune ao tempo e à humidade característica, ou talvez nos distraia com a vista que oferece.

Atualmente o Farol, sob a tutela da Autoridade Marítima Nacional (AMN), não recebe visitas. Ainda assim, este ano, uma parceria entre a AMN e o Open House Lisboa, permitirá a inscrição numa visita guiada a este recanto perdido no meio do Tejo. (Defesa)

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